domingo, 29 de novembro de 2015

Um Soneto por Um Beijo


















Pediste um verso. Eu prometo,
se matares meu desejo,
dar-te em troca de um só beijo
teu, o mais lindo soneto.


Tu me pediste um verso, eu peço um beijo,
mas quero um beijo ardente e sensual,
que me queime na chama virginal
de seu calor. Ah... mata-me o desejo:

Dou-te um poema, mas espero o ensejo

de te beijar e nisso não há mal;
quero beber na taça divinal
de tua boca o mel que tanto almejo.

Se não me beijas, perco a inspiração,

o pensamento falha e o coração
pára. Se tu me beijas, eu prometo:

Em troca, eu vou fazer um lindo verso,

te elegendo rainha do universo
no mais sublime e magistral soneto!... 

Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A Cruz Solitária


















Nem risos, nem choradeira
em minha essa mortuária.
Quero apenas, em madeira,
pequena cruz solitária.


Junto ao rio serpeava a velha estrada,
copiando-lhe a forma caprichosa;
ladeando a estrada, uma árvore frondosa
destacava-se àquela madrugada.

Numa curva da estrada sinuosa,
à margem esquerda, tosca cruz fincada,
sobre uma cova rasa abandonada,
formava uma paisagem dolorosa.

Nem data, nem um nome assinalava
o corpo que na cova descansava.
Chorar por ele, lamentar, quem há de?

Mas da manhã eu vi, na frouxa luz,
que o rocio pingava sobre a cruz,
como um tristonho pranto de saudade.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



Coração Mendigo

Óleo sobre tela de Edward Burns - Jones
The Heart Desires




Qual um mendigo que chora,
meu coração sofredor,
batendo a tua porta, implora
umas migalhas de amor!


De porta em porta, mendigando o pão,
sobras, migalhas, pálido mendigo
arrasta os passos trôpegos no chão
em busca de alimento, paz e abrigo.

Assim, também, meu triste coração
falto de amor, sem ter um ombro amigo,
sem paz, afeto, sonhos ou ilusão,
sua dor foi carpindo ao desabrigo.

Em cada peito ele buscou calor,
em cada coração, buscou o amor,
mas só colheu amores infiéis.

Hoje, alquebrado por seu padecer,
vem rastejante e humilde recolher
os sobejos de amor junto a teus pés.

Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



Saudades


Enio Gonçalves no filme O Homem Sensorial, de Eugenio Puppo




















Foste embora, que maldade!
Eu fiquei na solidão,
com o espinho da saudade
cravado no coração.


Em meu jardim, meu bem, plantei mil flores:
plantei tulipas, lírios, dálias, rosas,
narcisos, goivas, zênias e mimosas;
plantei saudades, cravos multicores;

Plantei begônias, íxias de mil cores,
flores alegres, vivas, perfumosas,
outras tenras e frágeis; melindrosas
de cores tristes, outras incolores.

Por entre as flores que plantei na vida,
eu te confesso, descobri querida,
a mais sublime e pura das verdades:

Se tu partires dou-te linda rosa,
pois, entre as flores, ela é a mais formosa;
e a sós comigo... ficarão saudades!

Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)!

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Amargura
















Sofro na vida qual fosse,
dos males do mundo, o centro:
Por fora pareço doce,
mas sou amargo por dentro!


Ah!... Quem me vê sorrindo nem sequer
percebe aquilo que minha alma sente.
O meu olhar esconde sorridente
o amargo fel que estou sempre a beber!

Ninguém consegue, mesmo, perceber
o que se passa no âmago da gente.
Mostrar feliz o rosto, alegremente,
esconde, às vezes, trágico viver.

Apesar de risonho ouso afirmar
que minha vida é cheia de tristeza
e guardo na alma funda cicatriz.

Sou como as árvores do meu pomar:
de doces frutos, raras em beleza...
“... o fruto é doce... amarga é a raiz!..."

Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)





quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O Aborto






















Em teu ventre ecoa um grito,
um grito de angústia e horror:
não me mate pede aflito
um feto, fruto do amor.


Dentro do ventre um grito angustiado:
Não me mates, mãezinha, por favor,
deixa eu nascer, sou fruto de um amor
e se por esse amor eu fui gerado,

Por que morrer assim, assassinado,
sem ter culpa, inocente, mãe!? Que horror!
Inda sou tenro e frágil como a flor,
então por que, meu Deus, ser abortado?

Quero viver, mãezinha, em teu regaço
quero ser embalado por teu braço
e nos teus olhos ver do amor o brilho.

Por que renegas a maternidade?
Por que rejeitas a felicidade
de um dia me chamares de: MEU FILHO!?...

Autoria: Romildes de Meirelles)
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)

Eu sou Árvore


















Sem as árvores o mundo
por certo sucumbirá,
há de vir um caos profundo,
ninguém sobreviverá!

A madeira é como o verso
que canta amor, desventura,
com madeira faz-se o berço
e o caixão pra sepultura


I

Para um pouco caminheiro

senta-te à sombra e descansa!
A brisa aqui é tão mansa,
na estrada o sol é um braseiro...
Toma um fruto meu e come,
junto a mim terás sustento,
desejo ser sua amiga,
a minha copa te abriga,
te protege contra o vento,
meu fruto mata a tua fome.


II


Vou contar-te a minha vida

enquanto gozas da sombra
neste chão macio, de alfombra,
da mata toda florida!
Eu nasci em outra era,
tão longe que já esqueci!
O mês eu nem mais me lembro,
se foi outubro... ou setembro,
mas, no mês em que nasci
era plena Primavera.


III


Olha meu porte, que nobre!...

Que altura descomunal!...
Dou sombra a qualquer mortal,
seja rico ou seja pobre;
aos lares levo o calor,
pra protegê-los do frio;
dou abrigo ao forasteiro,
ao cansado caminheiro,
seus pesares alívio
dando-lhe fruto e frescor.


IV


Quando nasces, sou teu berço,

De tua casa sou a porta,
Sou quem o teto suporta
e o meu uso é bem diverso:
sou a tábua de tua mesa,
sou a cama onde descansas,
sou cabo de ferramenta,
sou o fruto que alimenta,
sou brinquedos de crianças,
sou portão de fortalezas!...


V


Sou eu quem controla o clima

sou quem evita a erosão,
sou quem fornece o carvão,
sou quem dá matéria-prima
para papel e explosivo,
para tecido e verniz;
inda tenho um uso incrível,
dou álcool p´ra combustível
sou útil até a raiz,
só preciso de cultivo.


VI


A fauna eu também protejo,

abrigo em meus galhos, ninhos
donde saem passarinhos
que alegram o sertanejo;
em meu fruto os animais
encontram farto alimento;
protejo lagos e rios,
eu faço os bosques sombrios,
controlo a força do vento
sem que me canse jamais...


VII


Desde o berço ao ataúde

ter-me-ás sempre contigo!
Serei sempre teu abrigo,
desde a infância à juventude,
da velhice até a morte,
seja na paz ou na guerra!
E, para finalizar,
quando tua vida acabar
descerei contigo à terra,
sempre ligada a tua sorte!


VIII


Ouve, pois, oh caminheiro!

Que jamais teu braço armado
de fogo, serra ou machado,
venha ferir meu madeiro!
Cuida de mim com carinho,
dando-me um pouco de amor;
se tu fores meu amigo,
tu sempre terás abrigo,
com fruto, amparo, frescor
e descanso em teu caminho.

Autoria: Romildes de Meirelles
(Poema do livro Entardecer)

O Riso da Criança



Vejo crianças sorrindo,
que brilho nos olhos seus!
É este o quadro mais lindo
saído das mãos de Deus! 



Sei que foi Deus quem fez toda a beleza,  
fez tudo que há de mais belo neste mundo: 
Deus fez a Lua, o Sol, o mar profundo, 
Deus fez o lago, o rio e a correnteza, 

Deus fez o luar, a mata, a Natureza, 

fez bela flor nascer do lodo imundo, 
fez nosso solo rico e tão fecundo, 
e do Universo fez toda a grandeza.

Eu sei que Deus fez tudo que há na Terra, 

toda a beleza que este mundo encerra, 
no Sol, na Lua, no Universo infindo!

Porém Sua obra mais perfeita e bela, 

a mais sublime e mais bonita tela, 
é o esplendor de uma criança rindo!

Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)




Em Italiano:

Il riso del bambino

Di Romildes Meirelles

So che fu Dio a creare tutta la bellezza,  
tutto quello che c’è di bello al mondo: 
Dio fece la Luna, il Sole, il mare profondo, 
Dio fece il lago, il fiume, la corrente,

Dio fece il chiar di luna, il bosco, la Natura, 
Fece nascere il bel fior dal limo immondo, 
fece il nostro suolo ricco e tanto fecondo, 
e dell’Universo tutta la grandezza.

So che Dio fece quel che esiste sulla Terra, 
tutta la bellezza che il mondo contiene, 
sul Sole, sulla Luna, nell’Universo infinito!

Però la sua opera più perfetta e bella, 
la più sublime e più graziosa tela, 
è lo splendore di un bambino che ride!