quinta-feira, 7 de abril de 2016

Deus Brasileiro?!...







Para medir a cultura
de qualquer povo, é bastante
conhecer sua postura
de eleger seu governante





(Poesia feita por ocasião do “impeachment” de Fernando Collor)

I

Quando vejo esta terra linda, imensa,
de caudalosos rios, floresta densa,
de povo hospitaleiro;
quando vejo esta terra de beleza
exuberante, afirmo, com certeza,
que Deus é brasileiro.



II

Quando vejo milhares de crianças
vivendo ao léu, sem lar, sem esperanças
pelo Brasil inteiro,
quando vejo crianças no abandono,
na solidão da noite, eu questiono:
será Deus brasileiro?



III

Mas logo vejo a terra esplendorosa
onde floresce a mais bonita rosa,
vejo o Rio de Janeiro
do carnaval, do samba, da mulata,
do Pão de Açúcar, da Tijuca a mata...
Sim, Deus é brasileiro!


IV

Depois eu vejo o povo do Nordeste
morrer de fome, cólera, e de peste
vivendo em cativeiro
atado à terra seca, estorricada,
sem colégios, sem hospitais, sem nada...
será Deus brasileiro?...


V

No Sul vejo a cultura florescer,
vejo o gaúcho o pampa percorrer
– um hábil cavaleiro...
Vendo São Paulo, a terra do progresso,
eu, admirado e crédulo, professo
sim, Deus é brasileiro.


VI

Mas quando vejo, oh Deus, que um presidente
corrupto, espúrio, ímprobo, indecente,
arrasa esta nação;
quando vejo políticos devassos
carregando crianças em seus braços
nos dias de eleição;


VII

Quando sei que estes mesmos histriões
deixam morrer crianças aos milhões
sem dó nem piedade;
que fazem os ricos, poderosos, nobres,
fazendo pobres cada vez mais pobres
e culpam a sociedade;


VIII

Quando vejo os idosos sem amparo,
os jovens sem escola, sem preparo,
sem trabalho, sem nada;
que ao operário não se dá valor,
que nosso povo é eterno sofredor
e a nação é explorada;



IX

Quando vejo a miséria difundida
entre a população pobre e oprimida,
escrevo os versos meus
como brado de alerta, como um grito
que ecoará, por certo, no infinito
à procura de Deus.



X

Por isso é que lhe peço, irmão poeta,
você que tem na vida como meta
encontrar soluções,
façamos nossos versos como a espada
da justiça, de lâmina afiada,
punindo esses ladrões!



XI

Não cantemos somente nosso amor,
nosso prazer ou a natureza em flor,
lutemos contra o mal,
lutemos pelo povo esfomeado,
pelo menor na rua abandonado,
um cancro social!...



XII

Que nosso canto seja um estandarte,
que nossas armas sejam a nossa arte
e os versos, a bandeira
que nos trará um dia a excelsa glória
de ter escrito u'a página da história
da Pátria brasileira!


Autoria: Romildes de Meirelles
(Poema do livro Entardecer)

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