sábado, 9 de abril de 2016

Noites de Angústia


Quarto em Arles - Pintura de
Vincent Van Gogh, 1a. versão, 1888, Museu Van Gogh)






















Noite de angústia e pavor...
Um sonho de amor desfeito
mata o coração de dor
preso ao cárcere do peito



Na escuridão da noite, em meu quarto deserto
somente a solidão, palpável, espectral
está a meu redor. Uma angústia feral
povoa a noite escura. Um grilo, ali por perto,

arranha asperamente o silêncio augural,
como um presságio mau. No céu, um livro aberto,
vejo nos astros, todo o meu destino incerto,
e o meu sonho de amor em convulsão mortal.

Monótono pulsar do coração enfermo
traspassa o umbral do quarto e ressoa lá fora
quebrando aquela paz que existe em lugar ermo.

Doente e insone, amargo em meu tristonho leito
esta angústia cruel, que sem pressa devora
o coração que jaz no cárcere do peito.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



Muito Triste e Fria...


Imagem:Textoscontextosereflexões.blogspot.com



















À janela debruçada
com o olhar na imensidão
aquela moça gelada
era por dentro um vulcão.


Era tão triste!... Muito triste e fria
aquela jovem com o olhar distante!
Quando me via, havia, em vago instante,
em seu olhar um raio de alegria.

De tanto vê-la eu procurei um dia
me aproximar da moça e, relutante,
disse que a amava e me quedei perante
aquela jovem muito triste e fria.

Ela me olhou e agindo como louca
prendeu meu rosto e me beijou na boca
com volúpia infernal, com ousadia,

que logo percebi pelo seu jeito
que rugia um vulcão dentro do peito
daquela moça muito triste e fria.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)




Teu Amor


En El Invernadero
Pintura Impressionista de Édouard Manet
(França, 1832-1883)





















Não mais me amas! No entanto
vives em meu pensamento.
És alguém que eu amei tanto
e hoje és só o meu tormento!



Quero arrancar de mim esta agonia
que me estraçalha o coração e a alma,
que da vida me tira a paz e a calma,
que afoga os sonhos meus em nostalgia.

Quero fazer meu ser todo em poesia,

quero da glória carregar a palma
e sob raios de luz que a lua espalma
descer meu corpo à cova escura e fria.

Eu desta vida, nada mais espero,

pois que perdi aquilo que mais quero
e agora vivo mergulhado em dor;

e vou assim carpindo a desventura,

imerso na saudade, que tortura,
do tempo que ainda tinha teu amor...


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



- e o dia morre sem deixar saudade!...



















Ao ouvir os sons do sino,
pesar de toda a beleza,
o entardecer eu defino
como a hora da tristeza!


As nuvens se engalanam com mil cores
pra anunciar o despontar do dia...
Vem a manhã... é tudo luz... magia
da Natureza... passarada... flores...

mas estou só, e triste, e sem amores.

Não vejo as luzes, tudo é nostalgia
dentro em mim... esqueci minha alegria
de existir, vivo imerso em cruas dores.

A tarde chega fresca e radiosa,

mas para mim a tarde é fria e umbrosa,
nem vejo do poente a claridade.

Um vento frio me corta como açoite

anunciando que chegou a noite...
... e o dia morre sem deixar saudade!


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)

Apelo

















Só não teremos mais guerra
distribuindo a riqueza
e tudo o que há sobre a Terra
para acabar a pobreza


Eu também aprendi em tempos idos

e tenho a educação estruturada
contra essa guerra ignóbil, desalmada
de interesses venais e corrompidos.

Sei que ninguém nos prestará ouvidos,

pois a guerra econômica é armada
contra os pobres – a plebe desprezada –,
contra os trabalhadores oprimidos.

Unamo-nos em prol da liberdade,

da duradoura paz, da saciedade,
em árdua luta à busca da ventura.

Que a bonança e o prazer que a paz encerra,

estejam espalhados sobre a Terra
trazendo Novos Tempos de Fartura!


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)

Talvez


Maria Fernanda Cândido


















Meus olhos têm dois meninos
sofrendo tanto, meu Deus!
Querendo unir seus destinos
ao das meninas dos teus.




(Para Maria Fernanda Cândido)

Apenas uma vez a vi, no entanto,
meu coração quase parou no peito.
Não sei por que, talvez pelo seu jeito
de olhar e de sorrir que encanta tanto.

O cabelo, talvez, trigal desfeito
em ouro ao derramar - se como um manto
sobre os ombros. Talvez por seu encanto,
pelo seu porte, e o talhe tão perfeito

de seu corpo. Talvez pela ternura
de sua voz. Talvez, nem sei... Talvez...
talvez pela beleza e graça pura

do andar, pelo seu jeito delicado,
pela maneira alegre e tão cortês,
talvez porque... eu fiquei apaixonado!...


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)


De Repente

























Quando te vi, que alegria!
Do escuro fiz claridade,
da tristeza eu fiz poesia,
fiz da dor felicidade.



... e de repente a noite se fez dia,
da escuridão nasceu a claridade,
da tristeza surgiu felicidade,
transbordando a minha alma de alegria;

fez- se esperança do que foi saudade,
do canto triste fez- se a melodia,
da tempestade fez- se a calmaria
das incertezas fez- se realidade.

O mundo ficou belo, mais risonho
a vida transformou- se em lindo sonho
e eu me senti como se fora um Deus,

quando teu corpo enternecido e lasso
pude apertar nervoso num abraço
para meus lábios se unirem aos teus.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)