domingo, 10 de abril de 2016

A Mulher


Pintura de William Whitaker
























A Mulher é o bem maior
que Deus reservou pra gente.
Se Ele fez algo melhor,
foi pra Ele, certamente



Faça-se a luz!... e a luz foi feita. Deus
começava a criar o nosso mundo,
iluminando a escuridão dos céus.
Depois criou a terra, o mar profundo,

de ondas mansas e rudes escarcéus;
fez plantas, animais, solo fecundo
e tudo foi seguindo os planos Seus.
Criou depois belo jardim, jucundo,

e nele colocou a derradeira
obra — o Homem. Porém a verdadeira
e final obra-prima, sem qualquer

erro, a mais doce, a mais suave e pura,
símbolo da renúncia, da ternura
e do amor, foi moldada na MULHER.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)






Tua Carta








Quando tua carta chegou
eu senti tanta emoção
e alegria que parou
o meu velho coração



Recebi tua carta e fiquei tão contente,
que tomei do envelope e depressa eu o abri.
Quase louco de amor me tornei de repente
Ó que doce alegria, afinal, eu senti,

Vendo que tua letra era informe e tremente,
a alegria que tinha, então presto perdi.
Logo um triste presságio invadiu minha mente.
Oh que angústia, oh que dor, que tormento sofri,

Ao notar que o papel se encontrava manchado,
parecendo que estava em teu pranto molhado
inda mais aumentou meu intenso sofrer

Pois se a carta de amor me escreveste chorando,
eu tristonho fiquei, mudo e só, meditando
e, chorando também, já não pude mais ler.



Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)




Um Lindo Sonho


Pintura de Jean-Baptiste VALADIE



Muitos escolhos transponho
seguindo sempre teus passos,
porém, meu bem, só em sonho
consigo ter-te em meus braços.




Foi só um sonho, um sonho encantador...
A noite estava estranhamente fria.
Na prateada luz da lua havia
doces eflúvios de um suave amor.

Vinha da brisa um pálido rumor...
Todo o jardim, em volta, resplendia...
E vi como num passe de magia
teu belo vulto de menina em flor.

À tua passagem, rosas se curvavam...
Lírios, tulipas logo se dobravam,
murchavam violetas e verbenas.

Numa louca paixão tomei-te aos braços
Beijei-te a boca entre milhões de abraços.
... Foi apenas um sonho, um sonho apenas!



Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)





Tédio


Pintura de Steve Hanks



















Vejo segundo a segundo
todo o tempo a se escoar.
Imerso em tédio profundo
vivo triste a te esperar.



... E o tempo passa vagarosamente
no desespero atroz de quem espera...
Ela não vem e a ansiedade é a fera
que esmaga a minha alma lentamente.

Mil idéias povoam minha mente,
a imagem dela ocupa toda a esfera.
... e o tempo passa vagarosamente
no desespero atroz de quem espera.

Cruel angústia! Dúvida pungente
corrói a vida qual daninha hera,
destruindo meus sonhos de repente.

Eu vivo na ilusão dessa quimera...
... e o tempo passa vagarosamente
no desespero atroz de quem espera.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)






Êxtase


Leonid Afremov (oil on canvas)
















Tanta beleza esplendente
da pintora em frente ao mar,
que o sol parou no nascente
para a moça o retratar.



A cabeleira negra solta ao vento,
na mão pincel, paleta colorida,
em frente ao cavalete embevecida,
com o perdido olhar no firmamento.

Fora pintar do sol o nascimento;
a aurora de mil cores já vestida
iluminava a terra reflorida
espalhando um suave luzimento.

O sol surgiu na fímbria do horizonte,
iluminando o mar, e o prado, e o monte!...
Deu-se, porém, um fato singular:

Numa nuvem dourada resplendente,
o sol parou augusto no nascente
olhando a linda moça o retratar.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)

sábado, 9 de abril de 2016

Noites de Angústia


Quarto em Arles - Pintura de
Vincent Van Gogh, 1a. versão, 1888, Museu Van Gogh)






















Noite de angústia e pavor...
Um sonho de amor desfeito
mata o coração de dor
preso ao cárcere do peito



Na escuridão da noite, em meu quarto deserto
somente a solidão, palpável, espectral
está a meu redor. Uma angústia feral
povoa a noite escura. Um grilo, ali por perto,

arranha asperamente o silêncio augural,
como um presságio mau. No céu, um livro aberto,
vejo nos astros, todo o meu destino incerto,
e o meu sonho de amor em convulsão mortal.

Monótono pulsar do coração enfermo
traspassa o umbral do quarto e ressoa lá fora
quebrando aquela paz que existe em lugar ermo.

Doente e insone, amargo em meu tristonho leito
esta angústia cruel, que sem pressa devora
o coração que jaz no cárcere do peito.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



Muito Triste e Fria...


Imagem:Textoscontextosereflexões.blogspot.com



















À janela debruçada
com o olhar na imensidão
aquela moça gelada
era por dentro um vulcão.


Era tão triste!... Muito triste e fria
aquela jovem com o olhar distante!
Quando me via, havia, em vago instante,
em seu olhar um raio de alegria.

De tanto vê-la eu procurei um dia
me aproximar da moça e, relutante,
disse que a amava e me quedei perante
aquela jovem muito triste e fria.

Ela me olhou e agindo como louca
prendeu meu rosto e me beijou na boca
com volúpia infernal, com ousadia,

que logo percebi pelo seu jeito
que rugia um vulcão dentro do peito
daquela moça muito triste e fria.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)




Teu Amor


En El Invernadero
Pintura Impressionista de Édouard Manet
(França, 1832-1883)





















Não mais me amas! No entanto
vives em meu pensamento.
És alguém que eu amei tanto
e hoje és só o meu tormento!



Quero arrancar de mim esta agonia
que me estraçalha o coração e a alma,
que da vida me tira a paz e a calma,
que afoga os sonhos meus em nostalgia.

Quero fazer meu ser todo em poesia,

quero da glória carregar a palma
e sob raios de luz que a lua espalma
descer meu corpo à cova escura e fria.

Eu desta vida, nada mais espero,

pois que perdi aquilo que mais quero
e agora vivo mergulhado em dor;

e vou assim carpindo a desventura,

imerso na saudade, que tortura,
do tempo que ainda tinha teu amor...


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



- e o dia morre sem deixar saudade!...



















Ao ouvir os sons do sino,
pesar de toda a beleza,
o entardecer eu defino
como a hora da tristeza!


As nuvens se engalanam com mil cores
pra anunciar o despontar do dia...
Vem a manhã... é tudo luz... magia
da Natureza... passarada... flores...

mas estou só, e triste, e sem amores.

Não vejo as luzes, tudo é nostalgia
dentro em mim... esqueci minha alegria
de existir, vivo imerso em cruas dores.

A tarde chega fresca e radiosa,

mas para mim a tarde é fria e umbrosa,
nem vejo do poente a claridade.

Um vento frio me corta como açoite

anunciando que chegou a noite...
... e o dia morre sem deixar saudade!


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)

Apelo

















Só não teremos mais guerra
distribuindo a riqueza
e tudo o que há sobre a Terra
para acabar a pobreza


Eu também aprendi em tempos idos

e tenho a educação estruturada
contra essa guerra ignóbil, desalmada
de interesses venais e corrompidos.

Sei que ninguém nos prestará ouvidos,

pois a guerra econômica é armada
contra os pobres – a plebe desprezada –,
contra os trabalhadores oprimidos.

Unamo-nos em prol da liberdade,

da duradoura paz, da saciedade,
em árdua luta à busca da ventura.

Que a bonança e o prazer que a paz encerra,

estejam espalhados sobre a Terra
trazendo Novos Tempos de Fartura!


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)

Talvez


Maria Fernanda Cândido


















Meus olhos têm dois meninos
sofrendo tanto, meu Deus!
Querendo unir seus destinos
ao das meninas dos teus.




(Para Maria Fernanda Cândido)

Apenas uma vez a vi, no entanto,
meu coração quase parou no peito.
Não sei por que, talvez pelo seu jeito
de olhar e de sorrir que encanta tanto.

O cabelo, talvez, trigal desfeito
em ouro ao derramar - se como um manto
sobre os ombros. Talvez por seu encanto,
pelo seu porte, e o talhe tão perfeito

de seu corpo. Talvez pela ternura
de sua voz. Talvez, nem sei... Talvez...
talvez pela beleza e graça pura

do andar, pelo seu jeito delicado,
pela maneira alegre e tão cortês,
talvez porque... eu fiquei apaixonado!...


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)


De Repente

























Quando te vi, que alegria!
Do escuro fiz claridade,
da tristeza eu fiz poesia,
fiz da dor felicidade.



... e de repente a noite se fez dia,
da escuridão nasceu a claridade,
da tristeza surgiu felicidade,
transbordando a minha alma de alegria;

fez- se esperança do que foi saudade,
do canto triste fez- se a melodia,
da tempestade fez- se a calmaria
das incertezas fez- se realidade.

O mundo ficou belo, mais risonho
a vida transformou- se em lindo sonho
e eu me senti como se fora um Deus,

quando teu corpo enternecido e lasso
pude apertar nervoso num abraço
para meus lábios se unirem aos teus.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)


sexta-feira, 8 de abril de 2016

Tristeza



Saquarema / Rio de Janeiro
















Como é triste o fim da tarde!...
Ouvir repicar o sino
envolve a alma com um ar de
amor místico e divino.



Na tristonha penumbra ao fim do dia,
na hora que o sol se esconde no poente
e a escuridão da noite lentamente
envolve a terra em doce nostalgia;

Quando os amenos sons da Ave Maria
vibram pelo ar como canção plangente;
quando os sinos badalam docemente
espalhando uma triste melodia,

meu pensamento volta-se ao passado,
teu belo vulto vejo emoldurado
dentro de um halo de fulgor divino.

Na tristeza dolente que me invade
sinto meu peito encher - se de saudade
ouvindo o triste repicar do sino.

Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)


Quando Eu Morrer

















A tua imagem, querida,
eu guardo nos meus refolhos!
Ao terminar minha vida
hei de levá-la em meus olhos!...



Quando eu morrer, dispensarei lamento,
não quero ir triste para a cova fria,
quero levar, comigo, a voz do vento
cantando versos cheios de harmonia.

Quero que tenha, o meu sepultamento,
mulheres, vinhos, risos e alegria,
nada de choro nem de hipocrisia,
tristezas falsas em meu passamento!...

Porém quando você, mulher querida,
cerrar meus olhos frios, já sem vida
para a final partida deste mundo,

note bem uma coisa singular:
repare que em meu derradeiro olhar
seu vulto ficou preso lá no fundo!...


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)

Se Tu Pudesses




Há nos meus olhos a chama
daquele antigo querer,
todo o brilho de quem ama
porém tu não sabes ver.



Toda a paixão que existe no meu ser,
a tristeza de todos os meus dias,
o imenso amor que tenho, tu lerias,
se nos meus olhos tu pudesses ler!

Toda a razão que eu tenho de viver,
minhas angústias, minhas nostalgias,
tudo isso, por certo, saberias,
se nos meus olhos tu pudesses ler!

Tu saberias quanto que eu te quero,
saberias, meu bem, do amor sincero
que tenho n'alma para oferecer,

Saberias por quem eu sofro tanto,
saberias a causa do meu pranto,
se nos meus olhos tu pudesses ler!


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)