sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A Cruz Solitária


















Nem risos, nem choradeira
em minha essa mortuária.
Quero apenas, em madeira,
pequena cruz solitária.


Junto ao rio serpeava a velha estrada,
copiando-lhe a forma caprichosa;
ladeando a estrada, uma árvore frondosa
destacava-se àquela madrugada.

Numa curva da estrada sinuosa,
à margem esquerda, tosca cruz fincada,
sobre uma cova rasa abandonada,
formava uma paisagem dolorosa.

Nem data, nem um nome assinalava
o corpo que na cova descansava.
Chorar por ele, lamentar, quem há de?

Mas da manhã eu vi, na frouxa luz,
que o rocio pingava sobre a cruz,
como um tristonho pranto de saudade.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



Coração Mendigo

Óleo sobre tela de Edward Burns - Jones
The Heart Desires




Qual um mendigo que chora,
meu coração sofredor,
batendo a tua porta, implora
umas migalhas de amor!


De porta em porta, mendigando o pão,
sobras, migalhas, pálido mendigo
arrasta os passos trôpegos no chão
em busca de alimento, paz e abrigo.

Assim, também, meu triste coração
falto de amor, sem ter um ombro amigo,
sem paz, afeto, sonhos ou ilusão,
sua dor foi carpindo ao desabrigo.

Em cada peito ele buscou calor,
em cada coração, buscou o amor,
mas só colheu amores infiéis.

Hoje, alquebrado por seu padecer,
vem rastejante e humilde recolher
os sobejos de amor junto a teus pés.

Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



Saudades


Enio Gonçalves no filme O Homem Sensorial, de Eugenio Puppo




















Foste embora, que maldade!
Eu fiquei na solidão,
com o espinho da saudade
cravado no coração.


Em meu jardim, meu bem, plantei mil flores:
plantei tulipas, lírios, dálias, rosas,
narcisos, goivas, zênias e mimosas;
plantei saudades, cravos multicores;

Plantei begônias, íxias de mil cores,
flores alegres, vivas, perfumosas,
outras tenras e frágeis; melindrosas
de cores tristes, outras incolores.

Por entre as flores que plantei na vida,
eu te confesso, descobri querida,
a mais sublime e pura das verdades:

Se tu partires dou-te linda rosa,
pois, entre as flores, ela é a mais formosa;
e a sós comigo... ficarão saudades!

Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)!