quinta-feira, 21 de julho de 2016

Cantando a Mulher


Pintura de António Duarte (Portugal)



Eu já cantei o céu, a terra, o mar,
cantei a lua, o sol, cantei as flores,
cantei prazeres, risos, cantei dores
e a natureza estou sempre a cantar.

Do meu amor, cantei-lhe o terno olhar,
cantei-lhe a alma em todos os seus pendores;
cantei rainhas, príncipes e senhores,
canções de amor eu vivo a entoar.

Mas a partir de hoje já jurei,
apenas um assunto eu cantarei,
hoje, amanhã ou sempre que eu quiser,

Com viola, piano ou violão,
vibrando a prima ou ferindo o bordão,
só canto canto que cante a mulher.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Soneto do livro ENTARDECER)



Tua Imagem


O Céu na Terra - Pintura surrealista de JIM WARREN



Querida, és tu a única verdade
que amei e cujo amor guiou-me a vida,
que encheu de encanto minha mocidade
tornando-me a existência apetecida.

Busco encontrar nas brumas da saudade
a vez primeira em que te vi, querida.
Linda, vestida com simplicidade,
mas trazendo no olhar uma luzida

luz que invadiu meu coração tristonho
que se abriu para ti, como num sonho,
ganhando teu amor por recompensa.

Os anos passam... nosso amor, mais forte,
traz a certeza de que nem mesmo a morte
tira de mim tua imortal presença.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Soneto do livro ENTARDECER)



O Soneto




A poesia parece com as flores:
Os seus versos são pétalas formosas
Os sonetos são verdadeiras rosas
E a beleza de imagens, são as cores;

Quando a poesia fala-nos de amores,
São miosótis, lírios e mimosas;
As trovas são as flores graciosas,
São pequeninos cofres de primores;

As saudades são versos só de dor,
Porém quando os versos são de amor,
São flores com que as aves fazem ninhos!...

Que este soneto leve até tua alma
O perfume, a beleza e toda a calma
De um punhado de rosas sem espinhos.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Soneto do livro ENTARDECER)


Coração Exangue


Foto de ROMAIN VEILLON



Meu coração já foi tépido ninho
onde a esperança e o amor tinham morada.
Era um palácio, onde vivia a fada
da paixão, da ternura e do carinho.

O tempo, foi passando de mansinho,
a casa, foi ficando abandonada,
acabou-se a alegria, a paz e cada
compartimento vive em desalinho.

A esperança mudou-se um certo dia
deixando o desengano em seu lugar,
não há risos, somente nostalgia

habita o coração agora exangue,
onde o amor nós iremos encontrar
despedaçado e amortalhado em sangue.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Soneto do livro ENTARDECER)