quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Eu sou Árvore


















Sem as árvores o mundo
por certo sucumbirá,
há de vir um caos profundo,
ninguém sobreviverá!

A madeira é como o verso
que canta amor, desventura,
com madeira faz-se o berço
e o caixão pra sepultura


I

Para um pouco caminheiro

senta-te à sombra e descansa!
A brisa aqui é tão mansa,
na estrada o sol é um braseiro...
Toma um fruto meu e come,
junto a mim terás sustento,
desejo ser sua amiga,
a minha copa te abriga,
te protege contra o vento,
meu fruto mata a tua fome.


II


Vou contar-te a minha vida

enquanto gozas da sombra
neste chão macio, de alfombra,
da mata toda florida!
Eu nasci em outra era,
tão longe que já esqueci!
O mês eu nem mais me lembro,
se foi outubro... ou setembro,
mas, no mês em que nasci
era plena Primavera.


III


Olha meu porte, que nobre!...

Que altura descomunal!...
Dou sombra a qualquer mortal,
seja rico ou seja pobre;
aos lares levo o calor,
pra protegê-los do frio;
dou abrigo ao forasteiro,
ao cansado caminheiro,
seus pesares alívio
dando-lhe fruto e frescor.


IV


Quando nasces, sou teu berço,

De tua casa sou a porta,
Sou quem o teto suporta
e o meu uso é bem diverso:
sou a tábua de tua mesa,
sou a cama onde descansas,
sou cabo de ferramenta,
sou o fruto que alimenta,
sou brinquedos de crianças,
sou portão de fortalezas!...


V


Sou eu quem controla o clima

sou quem evita a erosão,
sou quem fornece o carvão,
sou quem dá matéria-prima
para papel e explosivo,
para tecido e verniz;
inda tenho um uso incrível,
dou álcool p´ra combustível
sou útil até a raiz,
só preciso de cultivo.


VI


A fauna eu também protejo,

abrigo em meus galhos, ninhos
donde saem passarinhos
que alegram o sertanejo;
em meu fruto os animais
encontram farto alimento;
protejo lagos e rios,
eu faço os bosques sombrios,
controlo a força do vento
sem que me canse jamais...


VII


Desde o berço ao ataúde

ter-me-ás sempre contigo!
Serei sempre teu abrigo,
desde a infância à juventude,
da velhice até a morte,
seja na paz ou na guerra!
E, para finalizar,
quando tua vida acabar
descerei contigo à terra,
sempre ligada a tua sorte!


VIII


Ouve, pois, oh caminheiro!

Que jamais teu braço armado
de fogo, serra ou machado,
venha ferir meu madeiro!
Cuida de mim com carinho,
dando-me um pouco de amor;
se tu fores meu amigo,
tu sempre terás abrigo,
com fruto, amparo, frescor
e descanso em teu caminho.

Autoria: Romildes de Meirelles
(Poema do livro Entardecer)

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