Falando de Meirelles


À esquerda, Romildes de Meirelles; à direita, João Roberto Gullino
Petrópolis/RJ, 23-02-2014


Falar de Meirelles é um autêntico paradoxo – é muito fácil e, ao mesmo tempo, muito difícil – principalmente em poucas linhas. Por isso, vou tentar esclarecer esse disparate, porque “acho” que já havíamos convivido num passado remoto, pois sabe-se que todos, de alguma maneira, se cruzaram “antes”. 

Conheço Meirelles há pouco tempo – cerca de vinte anos. Pelo tempo já percorrido, é uma pequena fração de minha estrada, por outro lado, me parece que nos criamos juntos, tal nossa afinidade.

Sempre calmo, sempre dócil, tem um prazer especial em nos orientar no versejar, nos ensinar, principalmente, a arte maravilhosa do soneto e suas regras rígidas e só perde a calma quando esbarra em quem se propõe a denegri-las, como muitos se propõem, mesmo sem conhecer a definição do poeta Paulo Bonfim sobre o assunto, quando disse : - “O soneto não é o espartilho da poesia mas sim, seu traje a rigor”, pois atravessa os séculos e se mantém incólume, inquestionável.

Para mim, parece que Meirelles já versejava mesmo antes de nascer pois precoce como foi, seu primeiro bilhete para a tia, foi escrito aos  três anos – fato comprovado – e o primeiro soneto, parece, aos onze anos. E daí não parou mais e a quantidade, talvez nem ele saiba, apesar de sua memória e inspiração privilegiadas. E como bom baiano, colocou em seu pódio, o poeta Castro Alves, de quem ainda tem gravado na memória toda sua vida e toda sua obra, fato raro em uma pessoa que se aproxima da idade longeva dos 93 anos. 

Sonhador, apaixonado, triste, às vezes melancólico, outras vezes, com muito “savoir-faire” e senso de humor. Sonetista, trovador e profundo conhecedor dessa arte, é uma pessoa iluminada que, mesmo com o desprezo da atual mídia, não se altera – tem consciência de sua contribuição para tal segmento e, para um exímio bardo, só isto é o quanto basta!

Mesmo considerando que, às vezes, em seu recolhimento, possa ser um pouco cético com a vida, sabe perfeitamente que, dela, só se leva o que se deixa – e ele, certamente, levará a grande satisfação interior de tanta beleza deixada para a posteridade, o que cada um fará a sua avaliação lendo e apreciando a beleza e a sensibilidade dos temas abordados e desenvolvidos em seus trabalhos. notadamente neste seu livro Entardecer.


João Roberto Gullino
Poeta e cronista
Petrópolis/RJ
(28-07-2016)




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