Etimologia e Versos




Sou poeta de mais de uma face. Além da minha face romântica e sonhadora, às vezes triste e melancólica e hoje particularmente saudosa do muito que já vivi e senti, construo poemas jocosos e irreverentes. São poemas que traduzem uma face alegre que diverte muita gente; são chamados de fesceninos.




Fescenino - s. M. Do latim, fesceninus = fescenino, topônimo relativo a Fescênia, cidade da Etrúria - do povo Etrusco, que antecedeu aos romanos nas proximidades de Roma - onde se realizavam festas populares burlescas, desregradas, libertinas e mesmo obscenas. Nessas festas rústicas, eram recitados versos sarcásticos e imorais. Essa poesia sarcástica, grosseira e imoral, era cantada nas festas públicas de bodas. Ela está na origem da poesia latina clássica. Era tão conhecida que até deu origem a uma expressão latina usada por Horácio: "fesseninna licentia" = licença fescenina, uma permissão para licenciosidades.






A leitura do que se segue abaixo não é recomendável  às crianças muito jovens, senhoritas pudibundas, matronas, donzelas convictas militantes e senhores hipócritas 



 Poesias feitas em parceria com o poeta
 Gilberto Baraúna






O DESODORANTE

Entrou na drogaria e foi pedindo
desodorante de uso vaginal.
O balconista, moço jovial,
lhe perguntou a marca, já sorrindo.

É clorofila que uso, não faz mal,
lhe diz a jovem de sorriso lindo.
- Infelizmente o estoque já está findo,
passe amanhã, da tarde no final.

- Mas amanhã não posso, meu querido,
só se entregar, então, ao meu marido.
Não levando amanhã, a senhora perde

e seu marido, eu sinto, não o conheço.
- Mas isto é fácil, logo lhe esclareço:
Ele é moreno, de bigode verde...






QUERIDO FILHO

Na convenção de classe, as prostitutas
resolvem escrever ao presidente
solicitando solução urgente
que termine de vez com as disputas

profissionais. Depois de muitas lutas
escolhem quem escreva fluentemente
uma missiva mui corretamente.
Surge um impasse: Quais são as condutas

para o início desta carta? Meu Senhor?,
Excelentíssimo?, Caro Doutor?
Qual tratamento lhe dará mais brilho?

Nisto, diz velha puta calejada:
O início é muito fácil, meninada,
basta botar assim – Querido filho!...



ÊTA MUIÉ MACHO

Foi noticiado em toda a imprensa do país que, numa praia de Maceió, a esposa do governador de Alagoas, Geraldo Bulhões, deu uma tremenda surra no marido com uma toalha molhada quando o encontrou com uma namorada.



"PARAÍBA MASCULINA
MUIÉ MACHO SIM SINHÔ"...

Esta moda já acabou,
diz a gente nordestina
isso é coisa do passado
tudo agora esta mudado.
Vamos cantar nossas loas,
pois a nova "muié macho"
que faz do homem capacho
só existe em Alagoas.

Veja o caso do Geraldo,
um governador galante,
arranjou uma bela amante
e quasse que entorna o caldo:
a Denilma virou fera,
bem pior que uma megera
fazendo um grande alarido.
Ela é cheia de malícia,
já manda até na polícia
e não respeita o marido.

Bulhões gosta de gandaia,
ele é um cara tão devasso
que volta e meia erra o passo
atras de um rabo de saia.
Quando a Denilma descobre,
não perdoa mesmo o pobre,
travando rude batalha,
só por causa de um namoro
quase que lhe arranca o couro
numa surra de toalha.

O Geraldo quer desquite
e disso não faz segredo,
da mulher tem tanto medo
que o faz perder o apetite
O medo se justifica
pois se com raiva ela fica
devido às suas paixões,
se o pegar com namorada
toma uma faca afiada
e vai cortar o Bulhões.




TUDO SOBE

Hoje o custo de vida é uma loucura
que já não sei, meu Deus, que fazer mais.
Sobe o pão, sobe a carne, sobe o gás,
sobe legume, fruta e até verdura.

Sobe a luz, telefone, que tortura,
o aluguel, este então, subiu demais.
Sobem livros, revistas e jornais,
sobe a manteiga e o óleo p'ra fritura.

Está tudo subindo no Brasil,
que o povo brasileiro, tão gentil,
tornou-se um povo rude, muito mau.

Se tudo sobe assim demasiado,
eu me pergunto muito preocupado:
Porque do idoso só não sobe o pau?




VENENO

Tome um pouco de mel e de veneno,
misture com sorriso a falsidade,
deixe dormir três noites no sereno,
depois misture um pouco de maldade.

Ponha tudo num tacho bem pequeno,
não se esqueça de pôr muita vaidade,
depois ponha num fogo bem ameno,
deixe ferver por toda eternidade.

Depois procure lábios sedutores,
ponha uma gota, não provoca dores,
ou ponha mais se assim você quiser.

Tudo pronto, parece o paraíso,
mas se você, amigo, tem juízo
não prove disto, é o beijo de mulher.




DECLARAÇÃO EM MÍMICA

Era surda a coitada, nada ouvia.
Por mímica tentei falar de amor,
sou pobre em mímica e ela não entendia
o que eu estava explicando com fervor.

Tentei todos os gestos que eu sabia
expressar com as mãos, pus mais calor,
mas a coitada, cada vez mais fria.
Fazia que eu perdesse o bom humor.

Meus gestos já causavam confusão,
cansado de tentar por gestos, então,
não sou mudo, falei como um plebeu.

Não sei eu que idioma eu expressava
tentando lhe dizer o quanto a amava,
mas quando usei a língua ela entendeu.




SANTO CONSELHO

Ao pé do altar se via diariamente
jovem senhora em doce nostalgia,
rezar u'a piedosa Ave Maria,
tendo no olhar a doce fé do crente.

Ao ver a cena, a madre docemente
pergunta- lhe a razão desta mania:
- Por que u'a Ave Maria dia-a-dia?
Qual a razão da reza persistente?

- Quero ser mãe, irmã, e não consigo,
tudo já fiz, não sei o que há comigo!
Eu necessito de um conselho vosso.

- O seu caso, irmã, é fácil de curar,
é só você, meu bem, querer trocar
a Ave Maria por um Pai Nosso.



RESPEITO AS VELHAS

Sempre pautei a vida com lisura
no trato e no respeito a toda gente.
Com criança e mulher sou indulgente
e a mulher trato sempre com brandura.

Não quero na mulher só formosura
e nem a quero por inteligente,
também não quero só por ser ardente,
nem por ser dócil, cheia de ternura.

Quero as mulheres com sinceridade,
sem distinção de tipo, cor ou idade,
por elas já passei por duras provas.

Com mulheres não tenho preconceito,
todas elas merecem meu respeito,
respeito as velhas, assim como as novas.




MENTIROSA

Vive a mentir, por tudo você mente,
às vezes mente descaradamente,
mente outras vezes terna e sutilmente,
mas, mente sempre, invariavelmente.

Mente ao entregar o corpo febrilmente,
mente ao jurar amor solenemente,
mente até física e espiritualmente,
traz a mentira no corpo e traz na mente.

Por caridade mente piamente,
por falsidade mente friamente
e por intriga só veladamente.

E mente tanto, amor, que certamente
você, querida, só, infelizmente,
fala a verdade só quando diz que mente.




O FIO DENTAL

Acabado o jantar, o presidente,
belo, feliz, alegre e satisfeito,
imaginava ser de novo eleito
em sujo pleito, fraudado, indecente...

Tão distraído estava absorto e ausente,
em sonhos delirando o tal sujeito,
que com o dedo mindinho, ele sem jeito,
bem devagar esgravatava o dente.

Seu secretário lívido de espanto,
vendo o gesto plebeu que avilta tanto,
ao presidente ele perguntava assim:

- Por que o senhor não usa fio dental?
Responde ele com graça genial:
- Será, meu bem, que fica bem em mim?




COLEÇÃO DE BORBOLETAS

- Vamos, querida, ao meu apartamento,
convidava o Romeu a Julieta.
Não sejas tola, estás sendo careta.
É somente, meu bem, por um momento.

Vou te mostrar porque sou ciumento
com minha coleção de borboletas,
e não a mostro p'ra qualquer xereta,
apenas p'ra quem tem bom sentimento.

São lindas borboletas, vais gostar,
tem borboleta até da cor do mar;
vamos, não ficarás nem uma hora.

- Eu vou. Se eu não gostar, o que é que eu faço?
- Dar- me-ás um beijinho, um forte abraço,
vestirás a calcinha e irás embora.




A COMUNHÃO

Aproximou-se triste do altar mór,
ajoelhou-se mui contritamente
e entre soluços, disse de repente:
Senhor meu Deus, eu sou um pecador.

Ouvindo aquilo, o padre confessor,
de imediato um triste drama sente
e diz baixinho, muito docemente:
- Vem confessar, mitigarei sua dor.

- Meu santo Padre, ele em sussurro diz,
sou pecador, eu sou muito infeliz,
eu comunguei, meu padre, eu comunguei e...

- Onde o pecado, filho, onde o tormento?
A comunhão é um santo sacramento.
Tu não me entendes, padre, eu como um guei.




PAIXÃO LOUCA

Hoje quero-te assim despida, toda nua
entre as gazas de seda imaculadamente
brancas de teus lençóis. Quero teu seio quente
beijar com avidez, sugar em tua boca

o doce mel do amor. Quero teu corpo ardente
fazer fremir de gozo, sob a alva luz da lua
que se reflete branca em tua pele e flutua
intensa em teu olhar. Eu hei de eternamente

te embriagar de gozo e de prazer carnal,
de te fazer pedir que pare esse chamego,
porém me estrangulando em ardoroso amplexo.

E assim, louco de amor e numa ânsia infernal,
num coito alucinante e sem te dar sossego,
então me afogarei mergulhado em teu sexo.




MEU ARDENTE DESEJO

Tenho certeza, amor, que vais me dar
o que venho pedir-te gentilmente.
O que eu desejo grada a muita gente,
é bem pequeno e a forma é circular

com pequeno orifício. Hás de notar

que o nome é pequenino, tem somente
duas letras e o "C" vem logo à frente.
              Não o quero virgem, pode acreditar,              

também não o quero gasto, muito usado...

Na minha idade devo ter cuidado,
pois a velhice encheu-me de manias.

Mas o que é, meu bem, que estás pensando?!!!!!

O que eu te peço e há muito estou buscando
é o teu CD gravado com poesias!!!




BEIJO VAGABUNDO

O começo é bem simples... um carinho,

os dedos deslizando suavemente
em sua nuca... este prazer crescente...
uma frase em sussurro, bem baixinho

ao pé do ouvido, a boca, o hálito quente,

nossa roupa de cama em desalinho...
Minha boca febril segue o caminho
que leva aos píncaros do gozo ardente!...

Depois... um beijo. Um beijo prolongado

vagabundo... que passando de um lado
para outro, vai seguindo instintos sábios

indo do rosto ao seio, indo do seio

ao ventre e acaba com a língua em meio
a leves toques nos pequenos lábios.




EM BUSCA DE UMA PRINCESA

Quando a mulher procura um grande amor,
não vão atrás de alguém vestido em trapos,
dá preferência a jovens belos guapos
que da saúde estejam no esplendor.

Depois procura um príncipe em farrapos

de roupas simples, sem qualquer valor, 
mas se fracassa, luta com ardor
e busca príncipes beijando sapos.

Também busquei princesas encantadas

e acreditei em narrações de fadas
no desejo de entrar para a nobreza

e nesse afã beijei rãs e bonecas,

andei beijando muitas pererecas,
porém nenhuma se tornou princesa!... 




DESEJOS

Queria ver-te totalmente nua!...
e assim te desnudei peça por peça...
Primeiro a blusa, devagar, sem pressa,
gozando do prazer que se acentua

ao te despir dos pés até a cabeça...
Tirei seu sutiã, e vi que a lua
não tem o mesmo brilho que flutua
em teus seios. Depois tirei depressa

tua saia, a calcinha e à minha frente
eu vi surgir o negro monte, ardente
fonte dos meus mais sensuais desejos.

Acesa de paixão a minha boca,
fremindo de aflição em ânsia louca,
cobriu teu corpo lindo com meus beijos!...




CORNÉLIO

O Cornélio, marido da Maria,

era um conservador e exagerado.
Para ele o que era bom era o passado,
os costumes, as coisas do dia a dia,   

como a janta em família. Não bebia,

não fumava e chamava de tarado
o homem namorador. Porém seu fado
lhe reservou triste surpresa um dia.

Chegando em casa, encontra sua mulher

fazendo amor com um empregado seu.
Fulo de raiva fica a esbravejar:

O modernismo é isto, você quer

transar hoje com mísero plebeu,
é capaz de amanhã querer fumar.




NO CINEMA


Passava um lindo filme de aventura

numa pacata rua de Ipanema.
A Lili e a Bebel vão ao cinema,
a sala fica totalmente escura.

O amor traído era do filme o tema,

muito amor e traição, também ternura...
De repente a Lili diz em censura:
- atravesso, Bebel, sério dilema,

um cara se masturba aqui ao lado.

- Vire pra cá e não lhe dê cuidado,
fingindo que não vê, não ligue, não.

- Mas não vai dar, Bebel, não vai dar certo,

o tipo aqui ao lado é muito esperto,
o cara está usando a minha mão.




COMPRAS EM ITU

Quem faz compras em Itu passa por isto...

Lá tudo é muito grande, minha gente,
fazendo compras o homem mais prudente
acaba sucumbindo ao imprevisto.

Entrando na farmácia, seu Calixto,

de receita na mão prudentemente,
vai pedindo e recebe do gerente
remédios de tamanho nunca visto.

Tubos gigantes, vidros colossais

e... cheeega!... Grita o homem estentóreo...
Desta farmácia eu nada quero mais...

Com tais remédios feitos em Itu,

se eu for usar supositório
acabarei arrebentando o cu...



SEREIA

Em sonhos eu te vi no atol sentada,
rabo de peixe, mística sereia.
Das coisas deste mundo longe, alheia,
como deusa nas pedras entronada.

Tua cabeça em ouro aureolada...

O peito firme que teu busto alteia,
a anca generosa que ponteia
numa cauda de peixe terminada.

Sereia, Iara ou Iemanjá te vejo!

Deusa, mulher ou peixe - tudo presta!
Venero, amo, eu quero, ei te desejo.

Peixe-mulher. Na dívida me acabo.

Mulher ou peixe? Certo só me resta
amar teu busto após comer teu rabo.

Aproveitando a "deixa" do soneto do Baraúna, fiz uma trova sobre o mesmo tema:

Vi uma sereia e me gabo

de ao vê-la não levar susto,
pois logo comi-lhe o rabo
e depois amei seu busto.
(Meirelles)




CASAMENTO TARDIO

Chega o dia, enfim, do casamento:

à cerimônia simples celebrada
compareceu a noiva remoçada
pela alegia do feliz evento.

Ele, elegante, de terno cinzento,

a cabeleira cinza prateada,
ansiava ver a festa terminada,
p´ra ter a noiva em seu apartamento.

Em lá chegando, veste seu pijama,

pedindo à noiva p´ra arrumar a cama
se desfazendo logo do buquê;

nesse ambiente cheio de euforia,

ele concentra-se em fazer poesia
e ela se senta p'ra fazer crochê.



(O poeta Baraúna deu-me a honra - (o Português é uma língua difícil... Nessa expressão "deu-me a honra", não estou querendo dizer que ele deu-me a honra dele, e sim me deu a satisfação) - de convidar-me para padrinho de seu casamento; só que demorou meses para conseguir os papéis, então imaginei que acontecesse isso.) 
 





NOITE DE NÚPCIAS


Aconteceu, enfim, o casamento!...
Como previ, a noiva remoçada
compareceu à missa celebrada
na humilde capela d'um convento.

A cerimônia simples, quase nada,

piucas palavras ditas n'um momento
grave e solene. O padre sonolento,
ansiava ver a missa terminada.

Depois da pequena comemoração,

onde o prato maior era a emoção
dos noivos, tal se fora a vez primeira...

Porém, p'ra o noivo a noite foi estranha,

embriagado de emoção tamanha
acometeu-lhe bruta caganeira.


(Quando, por fim, os papéis ficaram prontos e o casamento foi realizado na Igreja da Pç. Seca, aconteceu o descrito acima. Isto, de fato.) 
            



EXAME MÉDICO

A bela moça, loura e provocante

se recusava recatadamente
a se despir, ficando nua em frente
ao doutor muito jovem e insinuante.

- O meu pudor não deixa! E hesitante

o médico suplica surdamente:
- Se eu apagar a luz, você consente
que lhe examine logo, num instante?

- Se for no escuro, fico toda nua.

Ficou escuro... Branca como a lua,
toda despida, indaga sobranceira:

- Onde é que eu devo a roupa colocar?
Nervoso, cabe ao médico explicar:
- Ponha em cima das minhas, na cadeira.

(Essa anedota é muito velha, mas cabe colocá-la aqui como um soneto.)   





O RICARDÃO

Queixou-se o Ricardão ao seu amigo:
- Estou na fossa, estou com nostalgia,
vivo arrasado de melancolia,
ando triste, parece até castigo.

Ora, foi bom você falar comigo,
pois, quando estou, também nesta agonia,
quando a vida p’ra mim fica sombria,
corro pra casa, escuta o que digo,

pego a mulher e dou-lhe uma trepada
e logo, logo a coisa está sanada.
- A explicação, amigo, até me abrasa.

A solução, de fato é tentadora.
Agora diga meu amigo, se a esta hora
a sua esposa já está em casa.




EXPLICAÇÃO

Perguntava ao pai o Joãozinho:
- É verdade papai, que eu vim de um ovo?
- Ora, meu bem, mais uma vez renovo
A explicação: - Você, embrulhadinho,

de fralda nova, de lenço de linho,
de gorro azul e de sapato novo,
no bico da cegonha, em meio ao povo,
foi colocado em leito azul de arminho.

Nós pegamos você e com cuidado,
carregamos para casa agasalhado...
- Então, por que o marido da vizinha

No elevador explica a todo mundo:
- Este menino mora no segundo.
Ele é filho daquela galinha!...




FALTA DE PAPEL

Na portaria o luso reclamava

do precário serviço do motel.
Que atendimento mau!... Que horror!... Manuel
cada vez mais nervoso, se exaltava.

Eu não limpei meu cu, Manuel berrava,

pois no banheiro não achei papel,
osso parece mais com um bordel...
O gerente, nervoso, explicava:

- Desculpe-nos. Eu peço-lhe perdão.

Despeço o camareiro, mandrião.
De uma outra vez nos chame, fale, insista.

Prometo-lhe: - Não ficará à míngua

de papel; o senhor enfim tem língua...
- Claro, porém não sou contorcionista.


(Pra usar a língua seria uma ginástica terrível...)



NO CEMITÉRIO

Ao cemitério vinha todo dia
a viúva jovem que, discretamente,
em uma cova de data recente,
as suas mágoas com fervor carpia.

Chegando à sepultura ela subia

à mortuária laje alvinitente
e devagar, com ar indiferente,
dava mijadas sobre a lousa fria.

O zelador daquele campo santo

perguntava à jovem, com respeito e espanto,
qual o motivo dessa novidade,

dessa homenagem estranha e singular.

responde a jovem: - Este é meu chorar,
choro por onde sinto mais saudade.


(Se a saudade apertasse em outro lugar, o caso seria mais sério...)







TOQUE NA PRÓSTATA

Aquele dedo!... Pavoroso dedo
Calçado em luva, erecto, duro, em riste!...
Eu encolhido, e acabrunhado, e triste
e apavorado e trêmulo de medo.

O doutor, sádico, comido insiste:
Facilite este exame, fique quedo.
Reluto muito, mas por fim concedo,
pois este exame é nisto que consiste.

Encolo as pernas... posição de parto,
cheio de ânsias e de medo farto
deste exame infeliz de urologia.

Começa o exame... Aiii! Gritei de dor,
perdi a virgindade!... O tal doutor
sofria, eu penso, de acromegalia!...

(Acromegalia é o crescimento das extremidades.)




ESSA MULHER

Vinte e cinco anos. Loira. Uma Beleza.

Ebúrneo colo do palor divino,
onde os seios de alvor alabastrino
lhe dão um toque altivo, de princesa.

Caráter firme e casto, andar felino

de gata mansa, olhar azul turquesa.
Eis aí o retrato de Teresa,
essa mulher que entrou no meu destino.

Essa mulher, sem vícios, sem maldade,

é perfeita dama em sociedade,
porém num quarto a dois ela se inflama,

fazendo tudo o quanto tem direito,

pratica o amor de todo e qualquer jeito,
é a mais perfeita puta sobre a cama.




PARA DESCARREGO

Se sua vida está atrapalhada,
os seus caminhos cheios de agonia,
dou-lhe a receita certa da magia
que fará sua vida afortunada.

Mate u'a galinha preta todo dia,

um gato preto e uma preá malhada,
ponha num tacho, dê uma aferventada
e faça este despacho ao meio-dia.

Na quinta-feira, um galo carijó,

fazendo parte desse tal bozó,
deve ser posto embaixo da jaqueira.

Para acabar de vez com seu sofrer,

não deixe, meu amigo, de comer,
um cu de velha toda sexta-feira.


)Até que esse despacho é muito bom...)



...


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