sábado, 9 de julho de 2016

A Vela





















Quisera ser como o círio
que para todos reluz:
quero ao morrer, num delírio,
transformar meu corpo em luz!...




         Para Moacir Sacramento (*)

Uma pequena vela... ó que lição bonita
esta modesta luz, nos traz, bruxuleante!
Feita em cera, envolvendo uns poucos fios, crepita
com fraca luz que brilha apenas breve instante.

Dura bem pouco... a vela está agonizante!
A luz tremeluzente enfraquece e se agita.
Seu viver é fugaz... logo queima o barbante,
acaba a cera... e está sua vida finita.

Em pouco tempo deu, o círio, a breve vida
pela luz. Tudo findo! A missão foi cumprida.
A alaranjada chama agora não reluz...

Como invejo, meu Deus, o destino da vela!
Quisera fosse igual o meu fadário ao dela:
ver todo o corpo meu se transformar em luz!...



Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)


(*) - Moacir Sacramento, o poeta MOA, é o autor do poema intitulado "A Vela", de onde tirei inspiração para compor o soneto acima.
                                            (Romildes de Meirelles)


Essa Mulher


Pintura de William Whitaker
www.williamwhitaker.com



























A mulher dos meus desejos,
nos meus sonhos mais ousados,
afoga-me com seus beijos,
seus carinhos e cuidados.



Essa mulher que vejo diariamente,
às vezes cedo no raiar do dia,
outras à tarde no tocar plangente
do sino anunciando a Ave Maria.

Essa mulher povoa a minha mente
e faz do meu viver uma alegria:
faz o tempo passar rapidamente
sempre que está em minha companhia.

Quando sorri meu coração se inflama
só de pensar: Essa é a mullher que me ama
e será todo meu seu coração.

E vou seguindo-a quando tenho ensejos
unicamente para pôr meus beijos
nos passos que ela deixa pelo chão.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)


















Perdi todos os abrigos,
em que eu me amparava aqui
perdi os meus bons amigos,
té minha sombra perdi.



Sigo da vida este áspero caminho
da meta que o destino me traçou.
Entre os escolhos, palmilhando vou,
pisando em pedras, cardos e em espinho.

Quase no fim da estrada agreste, sou
o anacoreta que ficou sozinho,
sem parentes e amigos. Que restou
de quem, a muitos, deu tanto carinho?

Só este vulto pálido e encurvado
que hoje se encontra só e abandonado
entregue à sorte negra, má, falaz.

Já se fecharam todos os abrigos,
eu sigo só sem encontrar amigos...
...té minha sombra não me segue mais!


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)


Eu Sinto Pena de Você, Jesus




















Os modernos pregadores
que dizem pregar a luz,
são estes “Judas” pastores
que ainda vendem Jesus



Eu sinto pena de Você, Jesus!...
De que valeu você ser humilhado
pelos homens, depois crucificado
entre ladrões, pregado em uma cruz?!...

Eu sinto pena de Você, Jesus!...
De que valeu livrar-nos do pecado,
pregar o bem, tratar-nos com cuidado
se hoje ninguém enxerga sua luz?

Seu corpo há dois mil anos é vendido,
o que Você pregou foi esquecido
e a humanidade, só Satã conduz

por não lembrar-se dos conselhos Seus.
Mesmo sendo, Senhor, filho de Deus,
eu sinto pena de Você, Jesus!...


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)


Em Um Jardim





Quando te vi tão radiosa,
sorrindo com tal meiguice,
pensei no riso da rosa
se acaso a rosa sorrisse



Num florido jardim te vi um dia
entre cravos e rosas multicores,
eras mais uma flor entre outras flores,
a mais cheia de graça e louçania.

Emanava de ti tanta magia
que te seguiam lindos beija-flores,
procurando em teus lábios sedutores
este licor divino que inebria.

Encontraste pequena flor agreste,
descuidosa, sorrindo tu a colheste,
aspirando-lhe o pálido perfume;

mas as flores, também, são invejosas,
pendendo em suas hastes, vi mil rosas,
esmaecendo tristíssimas de ciúme.

Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



Não Me Perguntes










































Não me pergunte porquê
sou escravo dos desejos.
Eu não posso ter você
mas sou louco por seus beijos




Não me perguntes porque eu sonho tanto,
porque me sinto triste desprezado,
porque trago no olhar hoje apagado,
do amor, o fogo, pelo amargo pranto.

Não me perguntes porque eu sofro tanto,
porque me encontro só e abandonado,
porque maldigo este terrível fado
de desejar-te assim. Sofro!... No entanto,

sofro somente por amar demais,
guardando dentro ao peito estes meus ais
sem nada revelar de meu sofrer.

Não me perguntes porque eu amo tanto,
porque dedico amor tão puro e santo
a ti, mulher, se não te posso ter!...


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)