sexta-feira, 8 de abril de 2016

Tristeza



Saquarema / Rio de Janeiro
















Como é triste o fim da tarde!...
Ouvir repicar o sino
envolve a alma com um ar de
amor místico e divino.



Na tristonha penumbra ao fim do dia,
na hora que o sol se esconde no poente
e a escuridão da noite lentamente
envolve a terra em doce nostalgia;

Quando os amenos sons da Ave Maria
vibram pelo ar como canção plangente;
quando os sinos badalam docemente
espalhando uma triste melodia,

meu pensamento volta-se ao passado,
teu belo vulto vejo emoldurado
dentro de um halo de fulgor divino.

Na tristeza dolente que me invade
sinto meu peito encher - se de saudade
ouvindo o triste repicar do sino.

Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)


Quando Eu Morrer

















A tua imagem, querida,
eu guardo nos meus refolhos!
Ao terminar minha vida
hei de levá-la em meus olhos!...



Quando eu morrer, dispensarei lamento,
não quero ir triste para a cova fria,
quero levar, comigo, a voz do vento
cantando versos cheios de harmonia.

Quero que tenha, o meu sepultamento,
mulheres, vinhos, risos e alegria,
nada de choro nem de hipocrisia,
tristezas falsas em meu passamento!...

Porém quando você, mulher querida,
cerrar meus olhos frios, já sem vida
para a final partida deste mundo,

note bem uma coisa singular:
repare que em meu derradeiro olhar
seu vulto ficou preso lá no fundo!...


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)

Se Tu Pudesses




Há nos meus olhos a chama
daquele antigo querer,
todo o brilho de quem ama
porém tu não sabes ver.



Toda a paixão que existe no meu ser,
a tristeza de todos os meus dias,
o imenso amor que tenho, tu lerias,
se nos meus olhos tu pudesses ler!

Toda a razão que eu tenho de viver,
minhas angústias, minhas nostalgias,
tudo isso, por certo, saberias,
se nos meus olhos tu pudesses ler!

Tu saberias quanto que eu te quero,
saberias, meu bem, do amor sincero
que tenho n'alma para oferecer,

Saberias por quem eu sofro tanto,
saberias a causa do meu pranto,
se nos meus olhos tu pudesses ler!


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)





Basta Meu Canto


FONTE; www.dreamstime.com























Para cantar tua beleza,
todo o charme, todo o encanto
que te deu a Natureza,
basta, querida, meu canto.




Que ninguém mais exalte a formosura
de teu olhar e dos cabelos teus;
que ninguém cante a boca onde a ternura
do teu sorriso é dádiva de Deus;

Que ninguém mais exalte a graça pura

dos teus seios, dos olhos cor dos céus,
do teu corpo de helênica escultura,
dos lábios onde bailam beijos meus;

Que ninguém fale mais da natureza

doce, do gênio ameno e da tristeza
de teus olhos, quando úmidos de pranto.

Que não falem de ti em prosa e verso.

Que acabe a melodia no Universo,
para exaltar-te, fique só meu canto.



Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)



Nostalgia


Pintura Impressionista de
IRIS SCOTT (EUA)

























Esta angústia que carrego
que se agita e não se aquieta,
são turbulências, não nego,
de um coração de poeta.



Hoje sinto - me terno e apaixonado,
trago em meu peito doce nostalgia,
pois só a saudade faz-me companhia
agora que me encontro desolado.

A lembrança tristonha do passado
afasta do meu ser toda alegria,
fazendo triste até esta poesia
que emana do meu peito angustiado.

Não sei por que me abate esta tristeza
na morna noite cheia de incerteza,
quando até mesmo a lua sai discreta.

Vou escrevendo, assim, de qualquer jeito,
mas com vontade de arrancar do peito
meu coração tristonho de poeta.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)


A Escultura


(J. Maciel -  Escultura em mármore
Mulher com a mão no cabelo)





















Há no granito, em sua alma,
toda a beleza da obra,
o escultor com arte e calma
tira apenas o que sobra.



A pouco e pouco a rocha bruta e fria
nos mostrava o contorno da escultura.
Pelos traços, notava - se que havia
um gênio trabalhando a pedra dura,

moldando no granito uma figura
de mulher. Logo a perfeição surgia
em tudo, desde o rosto até a postura.
Tudo perfeito!... A estátua resplendia.

Conclusa a obra, em atitude insana:
- O que lhe falta para ser humana?
Pergunta o jovem, pálido escultor.

Do seio duro e frio do granito
brotou uma voz, como um tristonho grito:
- Pra ser humana inda me falta o Amor!


Autoria: Romildes de Meirelles
(Trova e soneto do livro ENTARDECER)