sábado, 23 de julho de 2016

Noite de Ano Bom




Noite de ANO BOM
31 de dezembro,
primeiro de janeiro,
acaba um ano,
começa outro.
Ano velho e ano novo...
O passado e o futuro...
E o presente?
Presente?! Ah, o presente para Iemanjá!...
Flores, perfumes,
alimentos, doces, bebidas...
Milhões de crianças morrendo de fome...
As praias da zona sul estão cheias,
mais de um milhão de pessoas,
centenas de milhares de veículos
queimando combustível,
todos querem levar presentes para Iemanjá...
Milhões de crianças sem ter o que comer,
sem colégios,
sem hospitais,
sem teto,
sem carinho,
sem amor,
morrendo de fome.


Será que Iemanjá não ficaria mais feliz
se todo este dinheiro fosse aplicado no amparo à criança
faminta?
31 de dezembro - 24 horas!...
Primeiro de janeiro - zero hora!...
No ar espoucam - milhares de reais
cascatas de luz,
chuvas de fogo, com brilho de prata.
Foguetes de lágrimas vermelhas,
vermelhas como o sangue
das crianças que morrem
sem ter o que comer.
Milhares e milhares de reais
consumidos em poucos segundos,
são milhões de crianças consumidas com esses fogos,
são milhões de brasileiros que morrem de fome
para que você veja,
iluminada por fogos,
essa noite de ANO BOM!...


Autoria: Romildes de Meirelles
(Poema do livro ENTARDECER)




Ressurreição do Amor




Eu que pensei não mais poder amar,
não mais sonhar, nem ter mais ilusão;
perdida a calma e tendo a alma presa
na atroz tristeza do meu coração;

eu que pensei de amar ter esquecido,
por ter sofrido grandes dissabores,
eu que hoje vivo imerso em nostalgia
na noite fria dos meus amargores;

eu que perdi o gosto pela vida,
eu que perdida vejo a mocidade,
eu que da morte sinto o frio bafejo.
como um ensejo de ir p’ra eternidade;

eis que uma chama tênue e imprecisa,
como uma brisa no meu peito, ateia
sob as cinzas do amor nova paixão
e o coração de novo se incendeia.

É que um simples riso de criança
trouxe esperança ao coração dorido,
fazendo-me esquecer de toda a dor,
trazendo o amor ao coração ferido.

Agora eu vivo alegre e satisfeito,
trago no peito o coração risonho,
hoje liberto de sua grande dor
por este amor que mais parece um sonho.


Autoria: Romildes de Meirelles
(Poema do livro ENTARDECER)




Parti do Norte Chorando





Parti do Norte chorando,
que coisa triste, meu Deus!
Eu vi o mar soluçando
e o coqueiral dando adeus!

      Aparício Fernandes




Vim para o rio sonhando,
Era apenas um menino,
em busca de outro destino.
Ainda me lembro, quando
"parti do Norte chorando"
buscando os caminhos meus.
Quando a meus pais disse adeus
eu vi nas faces curtidas
duas lágrimas sentidas...
"que coisa triste, Meu Deus" !


Foi triste vê-los pranteando
o filho que ora partia;
e eu na minha fantasia,
ouvi o vento ululando,
"eu vi o mar soluçando",
eu vi lágrimas nos céus
e também nos olhos meus...
Em meio a tanta tristeza,
vi chorando a natureza
"e o coqueiral dando adeus"!


Autoria: Romildes de Meirelles
(Poema do livro ENTARDECER)


Esquecerei


Pintura surrealista de JEAN PAUL AVISSE


Tristeza imensa o peito me anuvia
e faz de meu viver atroz tormento,
quando teu nome vem-me ao pensamento
tornando minha vida mais sombria.

Porém eu hei de te esquecer um dia
e acabar de uma vez meu sofrimento;
não lembrando de ti nenhum momento,
libertando-me enfim desta agonia.

No entanto estranha angústia me consome
e tristeza cruéis meu peito esmagam
quando me sinto preso em tuas teias;

mas da lembrança apagarei teu nome
como as ondas, beijando a praia, apagam
a memória ociosa das areias.

Autoria: Romildes de Meirelles
(Soneto do livro ENTARDECER)



Acróstico


Pintura de JOEL ROUGIE


C em anos vou servir em dura lida
A penas para ter o teu amor.
R elembro que Jacó com muito ardor
L utou pela Raquel, sua querida

A mada por quatorze anos de vida,
M as só porque Labão foi um traidor,
I mpingindo-lhe Lia, irmã maior
N o lugar de Raquel, a pretendida.

H ei de lutar como lutou Jacó,
A rrostarei o mundo inteiro só,
M as vou te conquistar de qualquer jeito.

U sarei os recursos mais diversos,
S e for preciso eu cantarei em versos
A paixão que carrego no meu peito!

Autoria: Romildes de Meirelles
(Soneto do livro ENTARDECER)





Consolo


Romildes de Meirelles

Após perder com minha mocidade
todo o vigor no decorrer dos anos;
após desgostos mil, mil desenganos,
sempre enfrentando a dura realidade;

após sentir o acúleo da maldade
de amigos falsos, estes vis ciganos.
trago hoje, guardada nos arcanos
da mente, a dor cruel da adversidade.

Nem tenho mais o alívio de meu pranto,
pois já o sequei depois de chorar tanto,
vivendo sempre em triste nostalgia.

Hoje, porém, eu tenho um outro bem:
além de estar em paz, tenho também
comigo o dom de inda fazer poesia.

Autoria: Romildes de Meirelles
(Soneto do livro ENTARDECER)



Quando o Poeta Trabalha




O Poeta trabalha... o pensamento erra
pelo espaço, buscando a fonte da poesia.
Após andar de astro em astro, volta à Terra
imerso na mais funda e triste nostalgia.

O Poeta produz... sua poesia encerra
o esplendor do luar, todo o calor do dia;
canta sua paixão, fala da paz e da guerra,
fala do bem, do mal, da dor e da alegria.

Se da criança fala, ou fala da inocência,
sua poesia cresce, evola como essência
e ecoa no universo os lindos versos seus.

E assim, num turbilhão de essências perfumosas
misturado ao olor das mais sublimes rosas,
há de sentir-se no ar um hálito de Deus.

Autoria: Romildes de Meirelles
(Soneto do livro ENTARDECER)


Meu Presente




Quisera dar-te um mundo de alegria,
quisera dar-te da ave o suave canto,
o perfume da flor e todo o encanto
das estórias de fada e de magia.

Quisera dar-te toda a luz do dia,
o brilho do luar; da noite o manto
estrelado, quisera do teu pranto
fazer um canto cheio de harmonia.

Quisera dar-te tudo que há na terra
toda a beleza que este mundo encerra
nas estrelas, na lua, no universo.

Porém, hoje no teu aniversário,
eu fiz do coração um relicário
que te entrego repleto com meu verso...

Autoria: Romildes de Meirelles
(Soneto do livro ENTARDECER)